Diversas vezes enquanto assistia o noticiário na tv, notei como existiam e ainda existem muitas mulheres que apanham, apanham caladas sem o direito de reclamar, seja lá por qual motivo - cá entre nós, é reclamar e apanhar novamente -. E não para por ai, sem contar aquelas que ficam trancafiadas dentro de suas próprias casas, sem ao menos poderem colocar os seus pés do portão para fora.
E desde então, sempre fiquei com aquela duvida quase indireta “Por que não separa logo? Afffff”. Não conseguia encontrar motivos negativos que não me levassem a acreditar que não tivessem para onde ir, seja casa de parente ou até quem sabe uma amizade antiga, tudo para tentar se livrar das agressões. É como dizem “pimenta no olho do outro é refresco”, sempre acreditei que isso nunca fosse acontecer, era 1 em 1 milhão entende? Sem chances!
Estávamos muito bem, conversa mansa entre risos e beijos que pareciam apimentar ainda mais o amor que um sentia pelo outro - pelo menos foi o que pensei - e de uma hora pra outra uma briga, motivo bem tosco “Por que você adicionou esse cara?” E como sempre as redes sociais unindo casais, só que não! Naquele momento só pensava em como acalmar aquele vulcão em forma de ser humano, e como tudo tem a tendência a piorar, piorou e como piorou.
Palavrões nunca fizeram o meu tipo, sempre preferi manter a calma e aguardar a cabeça parar de fumaçar, e então senti o primeiro tapa, não pense que era apenas uma dor física, doeu na alma, era como se tudo aquilo que um dia sonhei e acreditei estar realizando fosse embora, custei a acreditar. Difícil passar a conhecer o lado ruim de alguém, principalmente sendo alguém que ama, e então resolvi dar uma chance, quem sabe não muda? Pode ter sido apenas raiva de momento, não é?
E assim como o primeiro que desculpei não demorou muito para o segundo tapa aparecer, sofri calada e desculpei novamente, não tive escolha. Sem esperar veio o terceiro, pensei e pensei, acabei desculpando. E então como quem não quer nada o quarto tapa e assim foi indo até não aguentar levantar e não pense que não tive forças para tal ato, naquele momento perdia o chão, não entendia a razão da quebra da promessa e pude perceber como soava tão falso seus pedidos de desculpas. Prometeu, prometeu e prometeu e como das outras vezes uma nova promessa de mudança e mais desculpas esfarrapadas, vai me dizer que dessa vez era massagem?
Comecei a procurar respostas para as perguntas que martelavam minha cabeça, a ficha ainda não havia caído. Buscava a todo momento entender o motivo daquela atitude, e por alguns minutos até me culpei.
Poderia ter sido diferente, poderia ter evitado, poderia não ter adicionado, poderia, poderia… Não tive má intenção, era apenas uma rede social, só isso, bem como poderia não ter partido para uma agressão por um motivo tão tolo ou até mesmo sendo um outro motivo qualquer, não poderia ter feito o que fez.
Lembrei de suas confissões e claramente percebi o real motivo daqueles relacionamentos serem tão fracassados, e que tive a infelicidade de se tornar apenas mais um saco de pancada e não uma esposa que deveria ser respeitada e amada.
Tomei coragem, então disse que o namoro não estava dando certo e o melhor seria nos separar, te digo que as respostas não foram nada amigáveis. Puta daqui, puta de lá era como se de uma hora pra outra a “princesa” virasse “bruxa” e quisesse jogar um feitiço em todos os homens da cidade, na cabeça dele talvez fosse pior, vai saber. Nunca imaginei que acabar com um namoro onde era constantemente agredida, fosse tão doloroso, tão difícil, tão cruel, ameaças de morte já estavam se tornando algo rotineiro, soavam em meus ouvidos como “se eu tivesse coragem, te matava” era o que pensava.
Quase uma semana após os ocorridos, pensei “ah, agora está tudo bem” e foi aí que me enganei, discutimos novamente e dessa vez por conta das amizades que no passado tinham interesse em ficarem comigo e não quis. Repetia a todo momento que tinha o traído e que merecia a morte, fiquei apavorada, dizia que não tinha feito, não saía de casa, não tinha contato nem com a minha própria família, como iria trair? Não quis saber, deu passos largos em direção a cozinha e então corri para o banheiro mas não adiantou pois a porta era sanfonada, e aí levei o primeiro golpe, o segundo, terceiro e assim foi indo até não existirem forças para levantar, fingi de morta, e então correu, foi embora. Arrastei meu corpo do banheiro para a sala, consegui pegar o telefone fixo que por sorte não tinha o fio cortado, liguei para a emergência e mesmo com a voz falha e trêmula disse o que tinha ocorrido. Poucos minutos se passaram e então bateram na porta, gritei com todas as forças, e então quebraram os cadeados do portão para me socorrer.
Hoje estou bem, as cicatrizes assim como as dores das lembranças permanecem marcadas em minha alma. E desde então passei a entender na pele o motivo daquelas mulheres não saírem desse sofrimento, por medo, pelos filhos, até pelo orgulho de não sair como a errada da história e sentir pavor da própria família descobrir que estavam a todo momento bem mais do que corretos ao dizerem “ele não presta”.
Será que depois de tudo isso não sente a vontade de querer mudar? Começar uma vida nova, deixar tudo e ir salvar a tua vida, será que não pensa nisso? Caso passe por isso e ainda acredite na mudança das atitudes do seu companheiro, desculpa ser tão franca, ele nunca vai mudar, sabe o motivo? Quem faz uma vez, faz duas, três, quatro e assim vai, sem se importar nas suas dores físicas ou suas dores da alma. Caía fora enquanto ainda há tempo, enquanto ainda está viva, não espere acontecer o pior para tomar alguma atitude, qualquer lugar é melhor do que estar ali, sofrendo e sendo ameaçada por alguém que não te ama e que apenas pense ser tua obrigação o servir, não se engane, não largue a tua família por alguém que conheceu a tão pouco tempo, pense bem!
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